Após oito anos de negociações, o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta) — formada por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein — assinam nesta segunda-feira (15) um acordo de livre-comércio no Rio de Janeiro. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, representará o bloco sul-americano na cerimônia.
O tratado, fechado em julho durante a Cúpula de Buenos Aires, amplia a rede de parcerias comerciais do Mercosul. Brasil, que ocupa a presidência temporária do grupo até dezembro, sedia o evento, mas sem a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota, o Itamaraty destacou que a expansão das parcerias, a consolidação da união aduaneira e a modernização dos acordos regionais são prioridades diante de um cenário internacional considerado “instável e complexo”.
Pelos termos do acordo, cerca de 99% das exportações brasileiras para os países da Efta ficarão livres de tarifas, enquanto o Brasil eliminará tributos sobre 97% dos produtos importados do bloco europeu. Em 2024, o Brasil exportou US$ 3,09 bilhões e importou US$ 4,05 bilhões em bens da Efta. O estoque de investimentos do bloco europeu no país alcançou US$ 46,2 bilhões, enquanto os aportes brasileiros na região somaram US$ 11,7 bilhões.
Impactos para o agronegócio e a indústria
O setor agropecuário projeta oportunidades significativas com a abertura de mercados sofisticados e de alto poder aquisitivo. Segundo Fernanda Maciel, diretora-adjunta da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o tratado inclui mecanismos de “pré-listing” que facilitam exportações de carnes premium, cafés especiais e frutas tropicais diferenciadas.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que o acordo beneficiará especialmente setores de alimentos (19,4%), químicos (17,9%), máquinas e equipamentos (9,6%), metalurgia (9,5%) e produtos de metal (6,7%). O comércio de serviços também deve ganhar destaque, já que a Efta é o terceiro maior parceiro do Brasil no setor, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,6 bilhão em serviços e importou US$ 1,5 bilhão do bloco europeu.
Contexto geopolítico
A assinatura ocorre em meio ao esforço do Brasil para diversificar mercados após a imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre determinados produtos brasileiros. Apesar disso, Fernanda Maciel destaca que as negociações com a Efta antecedem essa crise e marcam um passo estratégico: “Sempre foi importante ampliar mercados e internacionalizar o agro, independente da política comercial americana”.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, avalia que o tratado é também um sinal positivo às negociações em andamento com a União Europeia: “O acordo é muito semelhante ao que está em discussão com a UE. Sua oficialização reforça o caminho para avançar nesse processo”, afirmou.


